Por Alexandre Cumino
Após três dias de retiro no mato, no meio do nada, em Minas Gerais,cercado de cachoeiras e pedreiras de quartzita,voltei às minhas reflexões sobre o mundo de dentro e o mundo de fora
Foram tantas informações que “recebi” neste pouco tempo que tenho dificuldade de colocar tudo no papel,no entanto, uma das mais marcantes é esta questão de “dar um sentido à vida” dentro de um “mundo sem sentido”.
Estar ajustado neste mundo ou ter alcançado algo como posição e poder temporal
não significa estar bem ou ter encontrado uma luz para nossas vidas.
Como nos ajustarmos em um mundo desajustados Se nos ajustamos no desajustado, desajustados estamos nós!
Ou o desajustado é um ajustado que finge estar ajustado e assim entra na normalidade do mundo em que todos vestem uma mascara social ou é só mais um doente em um “mundo doente”, crendo na sanidade entre os loucos.
Mesmo quem tenha boa condição financeira e seja feliz, pode até parecer ajustado, no entanto,se for sincero e tiver uma boa visão da sociedade em que vive saberá que desfruta de algo que é para poucos.
Não proponho uma revolução material, mas a busca por uma clareza na espiritualidade metropolitana.
Vivemos no mesmo mundo das monarquias com sua corte sustentada pelo povo, onde uma burguesia ainda luta para crer, orgulhosamente, que é melhor do que os escravos e a plebe. Somos hoje escravos de um sistema, oprimidos por um modelo capitalista, onde o chicote bate sem dó na criança, no velho e nas mães que não conseguem o mínimo para uma vida honesta e digna.
Por este motivo, mais uma vez, agradecemos a presença do Preto Velho e do Caboclo em nossas vidas, o primeiro por ajudar na libertação de nossos vícios e amarras do mundo da aparência e o segundo por nos despertar a visão de “um outro mundo possível”, em sintonia com a natureza.
Buscamos na espiritualidade em geral e na Umbanda em particular um sentido para a vida.
Para tal precisamos nos libertar deste ciclo vicioso do que é certo ou errado, de como devo me comportar, falar ou vestir.
Deixar de ser aquele que corresponde as expectativas do “outro” e da sociedade para sermos nós mesmos.
A questão é tão profunda que muitos vivem uma espiritualidade sem sentido e sem uma filosofia de vida.
Aderem a esta ou aquela Religião como quem passa a fazer parte de um clube social,
em busca de mais um rótulo, diploma ou cargo para seu currículo.
Agora são espiritualistas por freqüentar certo lugar e andam com um crachá de espiritualidade pendurado, para se sentirem superiores ou dizer que fazem um favor a sociedade.
Trocam os valores internos por práticas externas, se mostram evoluídos pelas roupas que vestem, pela alimentação vegetariana, pela erudição e até usam o não fumar e não beber para enfatizar seus valores ou para diminuir o outro.
Se espiritualidade fosse isso, seria muito fácil alcançar a iluminação.
Por isso cremos nos Pretos Velhos que fumam e falam errado, no caboclo “bugre”, na sabedoria “ignorante” do baiano, no boiadeiro que “ralha” seus valores, no marinheiro embriagado da energia do mar ou do cigano desmoralizado na cidade e dignificado no astral.
Com todos eles aprendemos que: o que vale na Espiritualidade e na Umbanda é o que não se vê.
Seu valor está além da aparência, “mais vale o que sai pela boca do que o que entra”.
Existe um chamado metropolitano, existe uma Umbanda Metropolitana, que nos assiste na problemática deste mundo, uma Umbanda que procura nos ajudar a entender o que fizemos de nós mesmos e de nossa sociedade.
Uma Umbanda que nos liberta dos apegos e das aparências para encontrar uma simplicidade de viver.
E este texto é apenas um convite a pensarmos estas questões dentro e fora da Umbanda.
EM TEMPO:
Não se confunda a colocação sobre o fumo como apologia ao mesmo, todos sabemos o quanto é prejudicial a saúde, mas ainda assim “fumar ou não fumar” é uma opção pela saúde, a espiritualidade deve estar acima desta e outras escolhas como alimentação e exercícios físicos. Que o umbandista aprenda a cuidar do corpo/mente/espírito por opção e não por imposição.
São Paulo, 14 de Junho de 2009.
Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada
http://www.seteporteiras.org.br
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